(UOL/FOLHAPRESS) - Quando Gabriel Medina ou por uma cirurgia no ombro direito, em janeiro, a previsão era dura: o tricampeão mundial dificilmente voltaria a competir ainda nesta temporada. Mas quatro meses depois, contrariando os mais pessimistas, Medina já voltou a surfar -e surpreende com a possibilidade real de retornar ao Circuito Mundial ainda em 2025.
Na semana ada, ele fez sua primeira sessão na piscina da Beyond The Club, da qual é sócio em São Paulo. A evolução rápida da lesão animou a equipe médica e abre caminho para que ele volte a tempo da última etapa do calendário regular da WSL, em Teahupoo, no Taiti - sua onda preferida, onde já venceu duas vezes e conquistou seu bronze olímpico, mas também conhecida como "praia dos crânios quebrados", uma das mais perigosas do Mundial.
O fisioterapeuta Alexander Rehder, do Espaço SETE, que acompanha Medina desde as primeiras semanas após a lesão, detalhou com exclusividade ao UOL como o surfista acelerou a recuperação, mas sem pular etapas. E por que ele pode estar pronto para voltar a competir em dois meses.
PRIMEIRO BAQUE
"Ele sofreu o primeiro baque na hora da cirurgia, aquele baque normal de toda pessoa. Mas o Gabriel controla muito bem os sentimentos. Na segunda semana que eu cheguei lá, ele já estava com uma vibe de 'bora, vamos ar por isso', explica Rehder.
Ele ligou o modo 'vamos fazer', e é surpreendentemente mesmo. Foram quatro meses que a gente conseguiu seguir uma linha muito bacana
ROTINA INTENSA
A abordagem envolveu criatividade, disciplina e uma rotina intensa: foram de quatro a seis sessões de fisioterapia por semana, intercaladas com natação, pedaladas e atividades específicas para manter Medina o mais atlético possível - mesmo de tipoia.
"De tipoia? Vai pedalar. Vai fazer exercício com o braço oposto, vai fazer perna, vai agachar. Isso ajudou muito. Ele voltou a surfar agora e está surfando bem", conta o fisioterapeuta.
Mesmo já pegando tubos e arriscando aéreos na piscina, Medina ainda não está liberado para competir. O objetivo agora é evoluir com cautela, respeitando a resposta do corpo, e, principalmente, das articulações, que ficaram expostas após o tempo fora d'água.
"A analogia que eu fiz foi: imagina um corredor, um sprinter de 100 metros. Pra dar esse sprint 100% de novo, são seis meses. Mas pra trotar, com quatro, já dá.
E o Gabriel está trotando. A gente está tentando segurar ele o máximo possível."
Competições agora não são uma opção. Mas em dois meses? Pode ser. Vai depender do quanto ele vai conseguir de preparação física e do quanto ele vai estar afim também Alexander Rehder
EVOLUÇÃO
O plano de recuperação também incluiu simulações de remada no mar e na piscina, antes de ir para ondas reais. Esta semana, Medina voltou a surfar na piscina, exigindo remadas curtas, mas fortes. A evolução está melhor do que o esperado, e a expectativa é de que ele já esteja de volta ao mar nas próximas semanas.
"A ideia é não expor muito ainda. E não é nem pelo ombro, mas pelo todo. Ele ficou quatro meses sem surfar. A velocidade de reação do membro ainda está diminuída. Se ele tomar um capote, pode não reagir do jeito certo. Por isso, precisamos ir com calma", explica Rehder.
VOLTA AO TOUR
Mesmo sem chances de disputar o título mundial este ano, a volta em Teahupoo tem um peso simbólico para Medina - e pode ser o início da preparação para 2026. Rehder não vê a força da onda, uma das mais pesadas e perigosas do Mundial, como um problema.
"Em julho, com certeza ele vai fazer alguma viagem de surfe com características de ondas mais pesadas. A partir daí, a decisão é dele e da equipe. Quanto ele vai se expor, o quanto vale, o quanto está preparado. Mas do ponto de vista físico, está tudo caminhando muito bem", finalizou.
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